Meu Deus…
Como está linda.
A lua
brilhava, soberana, majestosa no céu. Como um íman atraía olhares. A rapariga
que passava, abrandou o passo, presa ao
brilho hipnotizante.
“ O brilho
da lua é tão forte… - pensava ela – será que, se olhar por muito tempo, com
todas as minhas forças, poderei ver, ou pelo menos sentir… dizem que a lua é
mágica. Interfere nos partos, influencia a força das marés … porque não? Se
duas pessoas olharem ao mesmo tempo para a lua … poderão ser capazes de
encontrar a energia necessária para
criar uma passagem intemporal… o que uma sentir… poderá ser percecionado pela
outra. Se o que partilharem for muito intenso, poderão mesmo acabar por se
conseguir ver, refletidas, lá no outro lado.
Será que sim
Lua? A Lua sorriu só para ela, como que a dizer que sim.
Oh! –
Lembrou-se ela – mas também dizem que a Lua é mentirosa! Lembro-me de me terem
dito isso quando era pequena: Quando parece estar a crescer, lembrando um C,
está de facto a diminuir, e vice-versa. Patetices! Mas seria bom! Muito bom!
Ou não! Também poderia ser triste. Normalmente
temos tendência a pensar apenas em coisas boas. E se fosse só uma das pessoas a
possuir a energia necessária? Ou ainda, se tudo não passasse de uma fantasia de
uma delas, acarinhada e alimentada diariamente, ainda que com a aquiescência da
outra? Embora muito menos agradável, não deixaria de ser uma hipótese válida e
não tão descabida quanto se poderia pensar à primeira vista.
De sobrolho
franzido, emersa numa torrente encadeada de pensamentos e deduções, a rapariga
retomou o seu passo, colocando, sem se dar conta primeiro um dos pés, depois o
outro, no mar de luar que se espraiava à sua frente. As águas eram quentes,
doces e aconchegantes. As gotas de prata colavam-se à sua pele, atalhando
caminho por entre os tecidos, músculos, sangue, atraídas para um ponto
específico, fulcral, para o qual confluíam.
A rapariga olhava as miríades multicolores de
luz e brilho fascinada mas ao mesmo tempo temerosa e no entanto, incapaz de
desviar os olhos daquele brilho que sem saber a consumia e tomava como sua até
não restar mais nada a não ser uma centelha que ziguezeando partiu ao sabor do
vento, em direção a parte nenhuma.
Meu Deus,
como está linda a Lua! – pensou a rapariga, retomando o seu caminho.