quarta-feira, 24 de novembro de 2010



Procurei uma nuvem, dentro da minha cabeça e escondi-me lá.
Como não bastava, criei um banco de nevoeiro.
Levei o dia assim, umas vezes pairando, outras flutuando, cinzenta, sombria, desbotada.
Não bastou.
Bom seria poder sair de mim, nem que fora por um momento e poder tocar-te, abraçar-te, chamar-te à razão,
Entrar por uma nesga desse pedaço de tempo, por onde andas,
Voltar atrás…
Chamar-te…
Contar-te o como seria …será… é…Foi.
Pegar uma volta sob a volta e defraudar o tempo.
Foi-se a nuvem, o nevoeiro, todas as almofadas fofas que me protegiam,
E eu caí.
 Hoje foi assim.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dia cinzento



  Todos os dias aparecem pedras no nosso caminho, umas que cuidadosamente colocamos e zelamos para que de lá não saiam, outras que a vida se encarrega de proporcionar.
   Choramos, rezamos, deitamos contas à vida, rimos, odiamos, amamos, mas no final... no final, feitas as contas, nada sobra, a não ser o nó na garganta, o sabor amargo da perda e apesar de tudo a certeza de que valeu a pena ter vivido.
  Entro na capela. As pessoas distribuem-se em pequenos grupos, conversando em voz baixa,mão dentro do casaco, provavelmente a segurar o telemóvel, não vá alguém telefonar... outros ficam à porta. Inspiro o ar fresco da noite em grandes golfadas, mas custa-me respirar até ao fim; O laço parece ter-se apertado ainda mais. Reflexos de recordações espartilhadas, serpenteiam à minha volta, desconexas, envolvendo-me num transe deprimente,  quase  viciante, do qual tenho dificuldade em me soltar. Oiço conversas soltas à minha volta..." Assim é que se vê, o que valemos..."..." Esta vida não vale nada.."..
 Sinto-me vazia de tão cheia.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Always look at the bright sight of life


O rádio entoa as mesmas melodias de sempre. Deixo-o cantarolar, abstraio-me dos sons e tento concentrar-me. Pela minha cabeça pairam ainda ecos, do que foi o dia de hoje. Episódios espartilhados vão desfilando, um a um desconexos. Avalio cada um deles, tentando retirar o melhor do pior.
“ Always look at the bright sight of life”mesmo que este não seja inteligível à partida e a maioria das vezes não o é. Foi para este pensamento que em bicos dos pés, me tentei esticar o mais que pude, nas últimas horas, na tentativa de o agarrar e ficar ali, pendurada no alento, naquilo que me parecia ser na altura um mar de desolação.  
- Vamos fazer o que ainda não foi feito – grita o Pedro Abrunhosa –  não posso deixar de pensar se ainda existirá alguma coisa por fazer... Pelo menos digna de interesse ou de nota.  Regresso ao trabalho, ainda a tempo de ouvir os acordes finais do refrão :
-Porque amanhã pode ser tarde demais…