Procurei-te já por todos os recantos, mas não te vejo… não oiço aquelas gargalhadas que te costumavam anunciar, nem os teus passos lestos e despreocupados.
Por onde andas? Fui até ao mar e não te vi, nem no azul, nem na espuma das ondas. As gaivotas esvoaçavam, de olhar frio e despreocupado, um olho no mar, outro na esplanada, prontas para apanhar o que aparecesse, peixe, ou restos de comida. Dantes gostavas das gaivotas, de as ver voar. Admiravas o seu ar sobranceiro. E agora? O que será que pensas? Passavas horas a olhar para o mar. Sentada na bicicleta, no miradouro. Olharias mesmo? Ou deixavas-te ir, para outras paragens…
Começou a chover de repente. Caiem aquelas gotas grossas e frias, daquelas que te faziam correr, mas de que ao mesmo tempo gostavas. Lembras-te, daquela vez em Paris? Quando os relâmpagos caiam na Torre Eifel e tu riste, riste e disseste que era lindo, Abriste os braços para os céus, abraçaste a chuva, as nuvens e dançaste descalça, sapatos numa das mãos, completamente encharcada, sem te importares com mais nada. As pessoas passavam, mas tu não as vias… não as vias ou não te importavas, inebriada, a dançar à chuva. À tua volta formava-se um remoinho e as gotas voavam em todas as direcções. Continuas a dançar? Dançavas em qualquer lugar, desde que ouvisses uma musica de que gostavas… e cantavas.
Às vezes, quando estou em casa, no meio da noite, sozinha, tenho ainda a esperança de que apareças. Fico quieta, sem me mexer; oiço o ranger das tábuas do soalho e o meu coração dispara. Serás tu? Tu gostavas de surgir do nada, parecia que incorporavas o ambiente, …num momento não estavas ali, para no outro olharmos e darmos de caras contigo, sem fazer um som. Era desconcertante.
Onde terás ficado? Durante todo este caminho?
O meu medo é ter-te perdido, no meio das voltas, voltinhas, rectas, subidas e lombas. Não posso voltar atrás, para te ir buscar. É um caminho que não posso refazer.
Por onde andas?
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