quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Will you?


Diz-me Alice…. Achas que tenho hipóteses?
Gil tinha tomado nas suas as mãos dela, enchendo-a com o seu sorriso, que sem ele se dar conta, carregava o Sol. Sempre que pensava ou falava de Beatriz, era assim: o mundo parecia pequeno demais para ele.
“ A gata Alice” como ele lhe começara a chamar, estava enroscada num enorme cadeirão de verga, manta sobre as pernas, aproveitando o calor do início da tarde.
- Fazes-me rir, sabes… Um dia … Há muito, muito tempo… fui assim como tu. Doida. Obstinada. Apaixonada… Para mim também não existia mais nada.
- Quando estou com ela, o mundo parece parar. Tás a ver? Tudo deixa de existir. É uma cena marada….Imagina um filme… É pá… assim daqueles para o meio fatela, onde as miúdas se fartam de chorar… e às vezes a malta também, mas pronto…. – Gil largou-lhe as mãos e deu uma pancada seca nas pernas, meio envergonhado com o que deixara sair… - que artes e manhas tinha aquela mulher para lhe despir a Alma? - perguntou a si próprio - Siga! É assim: O mundo é o cenário, os outros os figurantes e no meio … estamos Nós. Nada existe sem Nós e tudo existe por Nós e para Nós.
Sim – disse Alice – Ainda me lembro de como é estar apaixonada… é precioso, sagrado. É um estado de graça. Algo que nos possui e nos diminui a razão, desfoca a visão, arrasa com todos os sentidos… -Estás a ver? Estou a ficar uma verdadeira poetisa, só de falar nisso… -Por uma palavra sentes-te capaz de tudo… por um gesto então…
Mas disseste-me que tens medo. Mas medo de quê? A paixão não se condói com os teus medos… Tem vida própria e exige ser vivida. Entrega-te a ela. Desfruta-a. Aproveita-a. E o mais importante de tudo: Lembra-te que não é eterna. Faz dela um culto…
- Eu não quero fazer nenhuma cena dessa!!! E se é para adorar alguma coisa… também não é preciso. Adorar, já adoro a Beatriz… Mas adoro mesmo, meu! Só tenho medo é que seja demais para ela…
Ela sempre curtiu uma onda de solidão e tal,” viver sozinha é que é do melhor” e tal e coisa… gosta de sair por ai fora, sem destino… Tás a ver… Vem agora aqui o Gil, armado em … Sei lá eu… e trufas… Olha, eu nem consigo dizer nada de jeito… Às vezes… às vezes farto-me de puxar pela tola… Uma gaja como ela, que tem tudo, vai gostar de um Mongo como eu porquê?
- Gil… - Alice inclinou-se e tomou-lhe o rosto nas mãos – Tu…
- Eu não faço sentido sem ela, Alice. É um bocado de mim, percebes… acho que nunca tinha entendido isso… só agora, que estou a falar nisto contigo… -Tu é que devias ser psicóloga! Em vez de estares a aturar aquele gajo marado, todas as semanas … o tipo não joga com o baralho todo… - Mas adiante…
Alice, isso tudo que tás a dizer é muito lindo, mas eu sinto mais… Já passei por tudo isso da paixão. Não sou um menino! Olha para mim… Mas não vem para aqui ao caso. Não sei se posso arriscar…
Agora que a encontrei, não a posso perder.
Achas que posso chegar ao pé dela e dizer…
- Beatriz…. Queres casar comigo?

1 comentário:

  1. Aplaudo: é sentido, intenso, vivo! Quase me sinto na sala onde o diálogo tem lugar!

    J. Abrantes

    ResponderEliminar