terça-feira, 28 de julho de 2009

Harley


-OLÁ!!! - Adivinha quem eu sou… disseram-lhe, tapando-lhe os olhos com força…
- Nem preciso de me esforçar… Eheehhe… A única pessoa que me continua a fazer isso és tu! Quando é que cresces? – Perguntou ela a rir.
-Ora seja bem aparecida! Até que enfim! Sim senhora! O Amor faz sempre bem! - A amiga atirou a mala para o chão e sentou-se de rompante ao seu lado, sem cerimónias.
- És uma desmancha prazeres… - resmungou ela - custava muito fingires que não me conhecias? Ah! Ah! Ah! Realmente… Estás bem?
Desde miúdas… Conheciam-se desde miúdas. Era a sua melhor amiga. Se havia pessoa neste mundo a quem não podia mentir era a ela. Nem o conseguia. Bastava olhar. Mesmo que fosse de soslaio… e às vezes nem isso. Comungavam de cumplicidade e sintonia, o que lhes permitia dispensar o uso da palavra. Para muitos era uma telepatia. Mas ambas sabiam que não era assim. Conheciam-se há tanto tempo… era uma dádiva. Uma dádiva do tempo.
- Estou a ver…
- Então ainda bem. Ela baixou os olhos.
- E tu? Que conversa era aquela?
- Não sejas assim… Tem calma… É então este o teu cantinho secreto… És mesmo uma safada… Queria-lo só para ti?! É fantástico! Nem parece que estamos cá. Parece o paraíso – disse a amiga, abrindo os braços, fechando os olhos e sorvendo o cheiro forte da maré vaza – é de facto incrível. E sem sairmos daqui. Só mesmo tu! Continuas com aquela mania…
Era. Continuava com a mania de sair de carro à descoberta, sem destino nem direcção. A amiga costumava dizer que ela era uma Motar, uma Harley… mas sem mota. Metia-se na estrada e rumava para parte nenhuma. Sem plano ou mapas. Às vezes limitava-se a conduzir, o dia todo, quase até ser noite e voltava. Outras, metia-se por estradas e estradinhas, empoeiradas, cheias de pedras soltam e buracos, e era assim que os descobria, aos seus santuários, os seus cantinhos, como a amiga lhes chamava. De todos, este era um dos seus eleitos.
- Espera até pedires qualquer coisa …. Ah! Ah! Ah!

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