quinta-feira, 9 de julho de 2009

- Vou à terra!


Ontem pegamos nos carros, saímos de Cascais e rumamos em direcção à “terra”. Fomos a Lisboa.
Quando era miúda, tinha uma série de colegas que orgulhosamente, embandeiravam em arco, boca cheia e diziam: - Vou com os meus pais à terra! Aí começavam os relatos da partida: arrancados da cama de madrugada, enfiados no carro a rojo e partindo em desfiada, pela calada da noite ainda, ou quase ao romper da madrugada. Seguiam-se peripécias rocambolescas, histórias de babar… regressavam como tinham partido, de noite e rodeados de chouriças, couves, galinhas, coelhos, viajando à solta dentro dos carros, dormindo a sono solto e despejados nas camas, sonolentos e birrentos. Nós ouvíamos, soltávamos uns bitaques sarcásticos, apelidávamo-los de bimbos e saloios, mas secretamente, roíamo-nos de inveja por não podermos também gozar de tal sorte. Tínhamos as “Férias grandes”… e como eram grandes naquele tempo. Começavam em meados de Junho e espraiavam-se pelo Verão fora, entrando por Outubro, e lá para dia quinze regressávamos à lufa-lufa das aulas. Eu saía de casa e ia para as Azenhas do Mar. Mas não era a mesma coisa… Não podia nunca dizer que ia “ passar as férias na terra”.
Na Marginal enquanto me deixava conduzir pela cadência mole do trânsito, dei por mim a pensar na minha infância e nas idas à Baixa, no Chiado daqueles tempos, no Grandela, no barulho que o chão de tábuas corridas fazia, ecoando; nos pátios dos corredores centrais, que faziam as minhas delícias, cheios de todos os tipos de guloseimas, vendidos em pacotinhos riscados de rubi, do sabor das pastilhas de mentol e de uns quadrados de açúcar de um vermelho carnudo e generoso… do expositor das longas cabeleiras louras, ruivas e morenas…Da máquina de pipocas que havia na Rua do Carmo e da excitação que era colocar lá uma moedinha e ver como elas apareciam rebolonas e apetitosas… do cheirinho das bifanas, que se soltava das tascas, e se enrolava no meu nariz, atraindo-me que nem um íman, obrigando a minha mãe a entrar, cheia de vergonha, com grande consolo meu… e do Tejo, da Sé… dos Elevadores, dos Jardins, dos Miradouros…
Foi aí que caí em mim. É certo que me faltava a azáfama da partida, o calor dos preparativos … mas finalmente, ao fim de todos estes anos, também eu poderia dizer …
- Vou à terra!

2 comentários:

  1. Pois é amiga, como te compreendo!
    à falta de "terra" onde ir (África está demasiado longe...), a minha terra é aquela onde estou em cada momento...

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  2. Poijéééé´!!! As bifanas, claro! Nunca mais tiverma o mesmo sabor!! Que pena tenho de quem prefere o Bigmac a uma bifana, a pingar molho e mostarda!

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