segunda-feira, 13 de julho de 2009


O rapaz passou, bamboleando-se ao som de uma música só sua, atirando pontapés numa pedra e levantando uma onda de poeira que o acompanhava e envolvia. Ela viu-o passar, de dentro do seu carro e pensou, sorrindo – lá vai o desajeitado. Até a dar pontapés nas pedras é sem jeito! Que poeirada…
Tinha entrado no carro, metido a primeira, indiferente a tudo, meio enfadada, meio tudo, meio nada, pronta para arrancar. Levantou os olhos, olhou em frente e ficou sem respiração. O Sol tinha acabado de se pôr, dando lugar ao romper da noite, a um crepúsculo de tons escuros e fortes, contrastando com a auréola viva dos últimos raios de luz, numa amálgama de azuis-escuros e fuchias. Tudo parecia calmo, aquietado. Os seus olhos encheram-se de lágrimas e sentiu o coração a estoirar. Era lindo. De uma beleza singular, perfeita. Uma sensação de plenitude foi tomando conta de si. Era como se as forças da natureza e do universo se tivessem conjugado, juntando esforços, oferecendo-lhe um espectáculo em que a espectadora era ela e só ela. – É um lugar-comum – pensou ela – mas se morresse agora, morreria feliz, em comunhão, morreria com um sorriso nos lábios.
Foi um instante mágico.
O crepúsculo é conhecido por isso mesmo.
Sem cerimónias tudo acabou. A noite caiu, de supetão. Embora fosse Verão, um ar frio e húmido reclamava a praia. As noites eram frias ali. Estremeceu, arrepiada. Suspirando voltou a descer à terra. Olhou-se ao espelho retrovisor, alinhou uma madeixa de cabelo em desalinho, deu à chave, pôs a primeira e arrancou.

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