sábado, 11 de julho de 2009

Lusco fusco


Lusco fusco.
Aquela era a melhor hora do dia. A azáfama finalmente findara.
Tinha acabado de arrumar tudo. As cadeiras e as mesas estavam guardadas, as portadas fechadas. Já tinha despachado a miúda da cozinha… grande melga aquela. A pita até tinha graça…Eh! Eh! Eh! Dava cada repostada… mas era uma pitinha ainda… Nada de confusões.
The show is about to start… Ta, na nan nan !!!! Ladies and gentleman… your attention please… From the esplanaide da praiaide especially para voceses..ehhehehe
O público era sempre o mesmo. Umas gaivotas retardatárias que por ali esvoaçavam , meias loucas, uns pescadores desesperados… só alguém desesperado por sair de casa e fugir do aconchego do lar poderia querer fazer o figurão de ficar plantado no meio de uma praia, ao relento, no escuro, pegar nos restos, meio apodrecidos de uns míseros bivalves, empala-los num anzol, e ficar agarrado a uma cana, horas a fio, na vã esperança, de que um ainda mais desesperado , tonto, tonto peixe , escorregasse e caísse na esparrela.
Era o que se arranjava.
Pegava na viola e começava a dedilhar. As gaivotas, safadas, parecia que adivinhavam e tratavam de bater em retirada. Os outros...os outros não tinham para onde ir, resmungavam vitupérios entre dentes, mas lá iam ficando. As suas mãos começavam devagar, a acariciar as cordas, como que a sentir a sua tensão e encontrar na vibração suave que iam produzindo a inspiração. Depois fechava os olhos e deixava-se ir, embalado pelos sons que ia arrancando. Ficava assim horas. Até que o frio e a humidade da noite se iam entranhando nele, reclamando a calma e o silêncio e se encarregavam de o expulsar.
Atirava com o casaco para os ombros e lá ia, para casa, devagar, dando pontapés nas pedras e sonhando, ao luar.

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