quinta-feira, 11 de junho de 2009

A aranha e a mosca





- Vem… Entra na minha teia - disse com voz doce e sedutora, a aranha à mosca que por ali esvoaçava – não te faças rogada, eu bem te vi, a mirar de longe a minha teia…
Repara na beleza dos seus fios! Já viste como brilham e reflectem a luz em mil cores? Vá lá… Vem! Daqui poderás apreciar melhor todo o seu esplendor e beleza…
A mosca abrandou o seu voo e olhou para a aranha. Já muitas vezes por ali tinha passado; muitas vezes tinha visto a aranha a desfiar a sua teia… Muitas vezes a tinha visto a atordoar as suas vítimas, enrolando-as ávida e, gulosamente nos fios brilhantes. Que lhe poderia ela querer?! A não ser …O seu sangue, a sua vida? Mas a mosca era curiosa - e se eu… mas… não! Era com este turbilhão de pensamentos que a mosca se debatia. Por um lado, a razão ditava-lhe uma morte certa e atroz, mas por outro lado… Porque não arriscar? Tinha confiança em si. Afinal, de que lhe servia voar? Lá em baixo, a aranha sorria e pensava de si para si….És minha! Só minha! E a mosca, como que adivinhando os seus pensamentos pensava …Sou dela! Só dela. Se não me acautelar perderei toda a minha vontade, despirei a minha couraça, tirarei a minha capa de temores e receios e ficarei nas suas garras, frágil como sou, despida de tudo e de mim, nua ….
Quero-te aqui! Nua, despida de todas essas protecções que teimam em me atrapalhar! - Cogitava a aranha - Quero-te aqui…
…Queria tanto estar aí, … Bem no alto…, Junto de ti…. Sentir o vento, devagarinho, bem devagarinho a embalar-me, e a sussurrar… ver o sol a bater nos fios da tua teia e a vestir o meu corpo de mil e uma cores… Sozinhas… Só tu e eu e a tua teia… Que interessa o que me possa acontecer?
Ela está ali, a olhar para mim… De certo não me fará mal… Se fosse para o fazer, já não estaria aqui…
Decidida, a mosca avançou, passo… Após passo…Após passo, naquilo que poderia ser a sua derradeira caminhada… A aranha mantinha-se imóvel, tremendo de excitação e frenesim, degustando, sentindo já todo o prazer com que o destino a tinha premiado
Incapaz de se conter mais tempo, a aranha avançou. Gulosa, fechou os olhos e antecipou a caçada com que se iria banquetear… a mosca, tonta voou e colocou-se ao alcance da aranha, pensando em tudo o que iria conhecer, com o brilho cego do desconhecido no olhar….
Splachhhhh!!!!!!!!!!!!! O fim foi atroz, mas imediato. Durante breves instantes tudo ficou calmo. Finalmente um grito lancinante rompeu o silêncio:
- Mãe, mãe!!!Desta vez é que foi!!!!!!!! Dois de uma vez só!!!! Grande pinta!!

Sem comentários:

Enviar um comentário