O dia foi anoitecendo, de mansinho. A agitação da tarde foi dando lugar a uma quase indolência que devagar, pé ante pé se foi começando a instalar, ronronando, toda ela dengosa e sedutora. Não sei bem o que fazer- pensou ela, ruga de irritação a instalar-se na testa. Poderia ficar em casa, ou telefonar a um amigo e desafia-lo para um copo... ou ir a um cinema... vou acabar por ficar aqui, afundada num sofá, consciente de que posso tudo, mas acabando por não fazer nada. Poder fazer tudo pode ser uma condicionante. Principalmente quando se chegou a uma idade em que se tem uma maior consciência de si, e de que o leque de opções é de facto muito alargado. O tempo das verdades absolutas jaz, lá longe.. o que torna tudo bem mais complicado. A idade traz uma maior exigência e ao mesmo tempo um despudor, o que nos permite, com o maior das avontades dizer o impensável, sorriso nos lábios, perante o embaraço e constrangimento dos demais. Compreendo
agora, aquela minha tia, que fazia as minhas delícias e que dizia sempre aquilo que todos estavam a pensar, mas que guardavam para si, reafirmando, peremptoriamente todas as suas palavras, se alguém ousasse pô-la na ordem. Querida tia!!!
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